terça-feira, 24 de julho de 2007

O lado instrumental dos Beastie Boys

Esqueça as vozes estridentes e anasaladas como em Fight for your right, Hey Lady, Gratitude, Sabotage e Body Movin. Você também não vai escutar samples, scratches, letras irônicas e bem humoradas. O fã do Beastie Boys não vai escutar letra alguma. Mesmo assim, The Mix-Up é uma (boa) pedrada nos ouvidos.
O mais novo disco do Beastie Boys, um dos mais importantes nomes da história do rap, (e porque não dizer da música universal?) mostra o trio formado por Ad-Rock (Adam Horovitz), Mike D (Michael Diamond) e MCA (Adam Yauch), desfilando suas referências, antigas e atuais, em um caldeirão sonoro que pode até soar como distante ao estilo que os consagraram, mas que tem uma ligação com a base musical dos três. Com os parceiros de sempre, Money Mark (Mark Nishita) nos teclados e Alfredo Ortiz, na percussão, o grupo faz uma verdadeira viagem sonora em uma sessão totalmente descontraída, cheia de improvisos, algo próximo do free-jazz, com uma pitada de boogalo (estilo original dos guetos africanos).
A idéia de um disco instrumental não é nova. Em 1996, eles lançaram The In Sound from Way Out, uma coletânea de faixas instrumentais que sempre apareciam em seus discos. Trata-se de algumas pérolas que acabavam funcionando como trilha sonora de skatistas e surfistas. Canções como Sabrosa e Rick’s Theme estavam presentes por lá. Naquele CD, eles acrescentaram duas faixas inéditas, uma delas uma menção à fase em que o grupo se encontrava espiritualmente com participação de monges budistas.
Quando a banda esteve no Brasil pela primeira vez, e se apresentou em uma casa de shows em São Paulo, já mostrava essa paixão pelo lado instrumental. Em determinado momento da apresentação, descia um globo espelhado no meio do palco, as luzes ficavam no melhor estilo cabaré e cada um assumia um instrumento. Mike D na bateria, MCA na guitarra e Ad-Rock no baixo acústico, Money Mark no teclado Fender Rhodes e Ortiz na percussão, exatamente a formação que fez The Mix-Up.
Partindo um pouco para a análise desse disco, chegamos à conclusão de que o trio está fazendo música por diversão, e isso é o que é melhor. Ao contrário de ficar em cima de elucubrações sobre o mesmo tema, eles partem para experiências sonoras que rompem o muro da mesmice em que se encontra a música. Eles são verdadeiros apaixonados por diversos gêneros musicais, e por que não colocar todos, sempre que possível, em seu trabalho?
Amam a música brasileira e, por esse motivo, chamaram Mario Caldato (o mesmo que mais tarde trabalharia com Planet Hemp e Chico Science e Nação Zumbi) para produzir alguns de seus discos. E como o toca-disco dos Beastie Boys é aberto a bons sons, foram a fundo no dub (a versão psicodélica do Reggae) e tiraram do ostracismo Lee Perry, que participou em Hello Nasty (1998). Isso sem contar a enorme lista de DJs que circularam pelo grupo, verdadeiros ninjas como Mixmaster Mike e DJ Hurricane.
Em resumo, o Beastie Boys é movido a grooves, batidas e sonoridades. A faixa desse novo CD, Suco de Tangerina, que foi escrita durante a última passagem deles pelo Brasil, é a prova disso. . Diz a lenda que eles adoraram o sabor da fruta, mas principalmente a sonoridade de seu nome, especialmente para três garotos que vieram da classe média de Nova Iorque. É som instrumental, que consegue, sem palavras, tocar fundo no bom gosto. (colaborou Moreno Bastos)

Grooverizando nas caixas, sem palavras, só com o som

terça-feira, 17 de julho de 2007

Uma nova visão



Prince é um gênio (ponto final). Ele colocou seu novo disco “Planet Earth” de graça na internet, e garante que ganha mais fazendo show do que vendendo seus discos. Perfeito, ele consegue dar uma rasteira nas grandes gravadoras, mostrando que artista inteligente não precisa ficar “pagando pau” para as “majors” e nem fica choramingando pelo leite derramado. Esse exemplo deveria ser seguido por mais gente, alguns já fazem isso, inclusive no Brasil. O Mundo Livre S/A mesmo não queria mais lançar no formato CD, queria algo virtual. Por mais que esse espaço tenha uma afinidade enorme com o bom e velho vinil, é certo que se ficarmos no esquema de esperar que alguém tome uma atitude para melhorar a vida dos músicos (e consequentemente da música) nada irá mudar. O artista que tem que mudar e não esperar que o cenário mude para ele. Prince é genial porque tem visão e não se resume a mesmice, sem essa conversinha de ficar só nas raízes de sua música, além do mais, raiz é cenoura e beterraba.

Grooverizando no computador, buscando beats e loops para anarquizar.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Hoje é dia do "roqui"...vamos ao velório.



Hoje é dia do “roqui”, assim como dia 25 de dezembro é Natal, 12 de novembro é dia das crianças e Nossa Senhora, 2 de fevereiro é dia de Iemanjá, 7 de setembro é Independência, e por aí vai. A pergunta é a seguinte. Por que um dia para comemorar um estilo musical? Provavelmente é uma idéia daqueles velhos que ainda se sentem roqueiros que estão carecas, mas deixam o cabelo comprido para se mostrar descolado, dizendo “Zeppelin era bom, aquilo sim que era música”. Ou então, algo assim como aqueles americanos que ficam de moto Harley se achando o máximo do rebelde, e na verdade, não estão fazendo nada mais do que parte do American Way of Life, e quer atitude mais temida pelos verdadeiros roqueiros do que isso?
Logo mais teremos dias santos para roqueiros tipo: São Elvis, São Hendrix, Nossa Senhora Joplin, Dalai Morrison e por aí vai. Roqueiro(a) hoje é Madonna, que mesmo hoje faz questão de criar polemica com atitudes colocando cruz no palco valoriza o universo homossexual. Roqueiro hoje é Ice T que fica com sua mulher pelado na capa do disco, Fatboy Slim que diz que só consegue tocar totalmente alcoolizado, ou seja, “tomo tudo que é tipo de droga e que se foda”. Não me venham com essa de que DJ não é musico, nesse espaço é sim senhor.
Hoje a nova geração de roqueiro fica mais preocupada com a roupinha combinando, com o corte do cabelo, com o som da moda e com a namorada, não é não romantismo. Ela tem que ser famosa, artista de novela ou cinema para os dois aparecerem na revista Caras fazendo um tipo alcoólatras descolados que estão nas baladas para aprontar, “suuupeeerrrr rebelde”.
O rock (escrito desse jeito) sim é um estilo musical bom e que aprecio, mas o dia do “roqui” é demais. Genial a frase de um verdadeiro roqueiro. “Não sou eu. São as músicas. Eu sou só o carteiro. Eu entrego as músicas”, disse Bob Dylan, que não estava nem aí para o “roqui”, estava interessado em difundir suas idéias e não um único gênero, tanto que fugiu de mega-ultra-super festival “revolucionário” Woodstock. Provavelmente ele ficaria muito mais feliz com o dia do carteiro (25 de janeiro) do que com o dia de hoje. Vamos ao velório do “roqui”.

Grooverizando na área, aumenta que isso aí é rock’n roll

terça-feira, 10 de julho de 2007

Salve o síndico da música brasileira


Sebastião Rodrigues Maia, mais conhecido como Tim Maia, um dos artistas mais importantes da história da música brasileira, ou melhor, da Música Preta Brasileira (como diria o grande jornalista e agitador cultural Israel do Vale). Não, ele não está lançando nenhuma grande raridade, nenhum disco de inéditas chega às lojas. Apenas um CD e DVD, Tim Maia In Concert, que registra uma apresentação de 1989 no Hotel Nacional do Rio de Janeiro.
Após 18 anos, esse registro histórico chega e, pode até não acrescentar nada na discografia cheia de grandes obras desse sindico da MPretaB, mas mostra um cantor e compositor em uma fase interessante, ao lado de sua banda Vitória Régia, comandada por Tinho no saxofone e Paulo Braga na bateria, além de uma grande orquestra sob a regência do maestro Ivanovich e arranjos de Lincol Olivetti, contando ainda com a participação de Jaques Morelenbaum e Giancarlo Parreschi.
Tim Maia era um gênio que conseguia, mesmo em uma fase considerada um tanto quanto brega como era essa do final dos anos 1980, manter seu encanto. Era um “brega de altíssima qualidade”. Ao morrer em 15 de março de 1998, Sebastião deixava um registro para a história que poucos conseguiram. Ele tinha atitude, atributo que 11 em cada 10 roqueiros do mundo tentam alcançar e não conseguem.
Existe até uma célebre história de que quando Tim chegava aos bares da moda no Rio, os gênios da música sentados comentavam “lá vem o Tião maconheiro”. Na verdade ele pouco se importava com o que as “cabeças pensantes” estavam dizendo. Pode existir e existem artistas melhores que ele, mas iguais jamais. E olha que ele vinha de uma família de 19 irmãos. Circulou pela bossa nova; passeou pela Jovem Guarda; em 1957, fundou no bairro carioca da Tijuca o grupo de rock Os Sputniks, do qual participaram Roberto e Erasmo Carlos. Não se fixou em nenhum destes gêneros e acabou se tornando o papa da soul/funk/black music brasileira.
Todo mundo gosta de ouvir a fase “Racional” de Tim e ficar babando se achando o descolado. Tudo bem, é uma fase de uma criatividade enorme, mas para o playboyzinho sempre mal informado, vale a dica: alguns discos dele tiveram mais influência e são mais valiosos que os dois da fase “roupa branca” do cantor. Não é à toa que, depois de um tempo, Tim chegou a abominar essa fase, por não acreditar mais no que havia dito. E ele, como um intérprete exigente, fazia questão de cantar aquilo de que gostava. Aliás, se ele conhecesse o publico que hoje adora essa sua fase racional, aí sim é que ele a renegaria mais ainda.
Voltando ao lançamento, os melhores momentos do show são os que não ficam claros no CD e DVD: os intervalos entre uma faixa e outra. O melhor de Tim, para além de sua música, sempre foi a sua briga com o “retorno” e a “luz”, sempre fazendo questão de homenagear a mãe do iluminador, como ele fazia questão de falar: “um abraço à mãe do nosso querido homem da luz, que está estragando tudo”. Esse era o sempre bem humorado Tim, que sabia até como xingar os problemas. Um verdadeiro “tarja preta” da música brasileira.
O disco, como já foi comentado, não acrescenta muito à discografia do Sebastião, e a gravadora também poderia nos poupar de algumas coisas como uma série de comentários no encarte. Tudo bem que tem um do Erasmo Carlos, da Sandra de Sá e do Nelson Motta – que está preparando uma biografia do cantor, mas alguém poderia explicar o que nomes como Léo Jaime e o Rogério Flausino estão fazendo por lá? No mínimo é um meio de divulgar artistas à custa de uma suposta influência. Convenhamos, no caso do “J Questionário”: não é porque coloca uma batidinha black e paga para uns nomes importantes da música negra aparecerem em seus discos que o groove está no sangue da banda. Falta muita, mas muita melanina.
Críticas à parte, o certo é que temos um novo disco e DVD do “Tião Maconheiro” na área e só isso já vale, Tim Maia é sempre bom de ouvir. Caso não queira gastar dinheiro adquirindo esse produto, existem os métodos ilegais (ou legal para alguns) para se conseguir essa obra. Salve Sebastião Maia, salve a música preta brasileira!

Grooverizando no condomínio, totalmente irracional

quinta-feira, 5 de julho de 2007

O Mar do Tremedão



Em 1972 Erasmo Carlos lançou um de seus discos mais autorais “1941 - 1972 Sonhos e Memórias”, isso quer dizer que era um disco bem pessoal mesmo. Todo mundo lembra mais desse trabalho pela faixa “Mane João”, mas uma canção mostra realmente um lado do “tremendão” que poucos conhecem, mas que se identifica muito com o gosto das pessoas do Bem, “Meu Mar”. Um momento recente e marcante, foi estar falando sobre Erasmo com uma Menina indo para o show dos Racionais (na DesVirada Cultural) na Praça da Sé. Falávamos do lado do palco do Clube do Balanço, justamente onde ele iria se apresentar minutos depois. O volume de gente era tamanha que só conseguimos ouvir um pouco desse show, bem longe dalí, com um chá nas mãos e uns parceiros do lado. A melhor opção foi continuar indo para a Praça da Sé, ao som de "Coqueiro Verde", para mais tarde levar bala de borracha dos "coxinhas", mas isso é outra história.
A letra é simples, curta mas ao mesmo tempo perfeita. Erasmo Carlos mostra o porque ele é o Cara.

Meu Mar
(Roberto Carlos - Erasmo Carlos)

Lá, no lugar onde eu for morar
Vai ter que ser bem juntinho ao mar
Meu mar, meu mar, meu mar
Quero a amizade de um cachorro manso
Quero uma rede para o meu descanso
Quero um pileque de água de coco
E da vida saber muito pouco
Quero os olhos da minha janela
E ter muitos filhos com ela
Quero ver o mundo que se cria
Quero ver meu Deus voltar um dia
Então, eu vou ver o meu Deus voltar
Com a paz de um irmão
E um violão

Grooverizando na babilônia, louco para ir para a praia

segunda-feira, 2 de julho de 2007

A busca por um Ponteio



Edu Lobo com Oscar Castro Neves, Gracinha Leporace, Claudio Slon, e outros, durante turnê pelo Japão com o Brasil-66 de Sergio Mendes.
1971
Foto: Hiroto Yoshiaka (do site http://www.edulobo.com/)


Na caça pela boa música que faço diariamente como uma forma de relaxamento mental e exercício para a evolução do espírito, apareceu na minha frente uma versão nova (para mim pelo menos) de “Ponteio” do genial Edu Lobo, um dos grandes nomes da bossa nova. Essa versão é em parceria com o “xará” Sergio Mendes, linda, acelerada e com uma percussão magnífica. Falando em batucada, veio junto também uma versão feita por Dom Um Romão, que dispensa qualquer comentário, ou merece apenas um SENSACIONAL.
Entre as varias uma sempre que pode aparece nas pick-ups desse projeto de dejota, uma com Astrud Gilberto com Turrentine e arranjos de Eumir Deodato. Canção que me fez lembrar de um outro arqueólogo da música brasileira e que sabe entender como ninguém toda magia que as variações que essa arte pode nos oferecer, obrigado ao poeta (e jornalista por diversão) Ronaldo Faria pela companhia eterna no universo das harmonias e acordes que o Brasil e o mundo podem nos oferecer.

PONTEIO
(Edu Lobo / Capinan)

Era um, era dois, era cem
Era o mundo chegando e ninguém
Que soubesse que eu sou violeiro
Que me desse ou amor ou dinheiro

Era um, era dois, era cem
Vieram pra me perguntar
Ô, você, de onde vai, de onde vem
Diga logo o que tem pra contar

Parado no meio do mundo
Senti chegar meu momento
Olhei pro mundo e nem via
Nem sombra, nem sol, nem vento

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola pra cantar
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola pra cantar (bis)

Era um dia, era claro, quase meio
Era um canto calado, sem ponteio
Violência, viola, violeiro
Era morte em redor, mundo inteiro
Era um dia, era claro, quase meio
Tinha um que jurou me quebrar
Mas não lembro de dor nem receio
Só sabia das ondas do mar
Jogaram a viola no mundo
Mas fui lá no fundo buscar
Se eu tomo a viola ponteio
Meu canto não posso parar, não

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola pra cantar
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola pra cantar (bis)

Era um, era dois, era cem
Era um dia, era claro, quase meio
Encerrar meu cantar já convém
Prometendo um novo ponteio
Certo dia que sei por inteiro
Eu espero, não vá demorar
Este dia estou certo que vem
Digo logo o que vim pra buscar
Correndo no meio do mundo
Não deixo a viola de lado
Vou ver o tempo mudado
E um novo lugar pra cantar

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola pra cantar
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola pra cantar (bis)


Grooverizando com a viola, feliz com o novo ponteio

domingo, 1 de julho de 2007

Revolução x Televisão

Para testar o uso da nova televisão no blog, para tentar falar que o rap (assim como a música eletrônica e o dub) são um dos poucos estilos na música que ainda tem para onde evoluir. Vamos falar de Gil Scott-Heron, que nasceu em 1 de abril de 1949 em Chicago, Estados Unidos – e apesar de ser o dia da mentira ele é um sinônimo de algumas verdades.

Músico e poeta ficou famoso em 1970 quando lançou o disco “Small Talk at 125th and Lenox”, seu poema (e música) mais famosa é “The Revolution Will Not Be Televised”, ou para nós: “A revolução não será televisionada”. Assistindo os principais canais de televisão podemos ver que sua profecia, não é nada mais do que uma verdade.

Outro mérito que Scott-Heron carrega em seu currículo, além de ser um ativista político que batalha pelo direito e orgulho de ser negro em seu país, é de ser um dos precursores do rap. No seu principal disco em uma das faixas ele fala a frase "Ritmo e Poesia", ou melhor, "Rhythm And Poetry".

Certamente a revolução não vai ser televisionada, e não é por menos que Chuck D vocalista do Public Enemy definia seu grupo como a CNN Negra, poderíamos criar canais diferente para se tentar revolucionar aquilo que ninguém quer revolucionar, o poder, entre outras doenças que afligem a humanidade. Hoje a internet pode ser um caminha para abrir a discussão, só não se pode perder o bonde da história, que está passando em uma Banda Larga, como diria a nova música de Gilberto Gil.

Grooverizando na rede, ligando a TV e sintonizando a cabeça.